O Herói que não pode ser herói - Cap. 10.5
The Hero That Can’t Be A Hero
Capítulo 10.5: Símbolo Heroico.
— S-senhor herói…! Um momento!
Pat-pat-pat!
Essa voz… não era aquele cara de antes?
— Espere um pouco…!
Pat-pat-pat-pat-pat!
É ele mesmo… mas o que que esse cara quer tanto comigo…?
— Você está indo pelo lado errado!!!
Mas hein?
…
Nem fodendo.
Eu paro de andar e me viro frustrado, percebendo o idiota que fui em perder tanto tempo.
Onde que eu tava com a cabeça?! Claro que não vou saber onde fica a porra desse lugar!
Eu tento disfarçar, mas minha expressão não esconde o quão puto eu tô. Pelo menos, ela alivia um pouco quando eu olho pro cara.
Ele é bem baixo em estatura, acho que deve ter no máximo 1,50… como eu corri três corredores, deve ter sido bem difícil pra ele. Pfft!
— Aaah… finalmente. — Ele ofega enquanto se aproxima de mim, o rosto dele tá completamente vermelho… é, foi mesmo difícil. Eu me seguro pra não mostrar que quero rir, vendo ele todo suado. Pfft- Haha! — Preciso que o senhor me siga… não podemos perder mais tempo!
Ele parece muito mais preocupado do que eu. Se não me engano, ele disse que aconteceria em trinta minutos, não…? Por quanto tempo eu fiquei correndo? Cinco minutos? Dez?! Puta merda, agora sou eu quem tá ficando desesperado…
— R-relaxa, vai dar pra chegar a tempo, confia em mim. — Eu falo, mais pra mim mesmo do que pra ele. O que importa é ser confiante. — Só preciso que me diga onde fica o lugar que eu chego lá num instante.
Eu pergunto, pra agilizar mais as coisas. Como ele parece bem cansado, com certeza vai demorar uns dez minutos só pra começarmos a andar. Ainda assim, tenho a impressão que ele simplesmente não vai querer me contar onde fica o tal lugar.
— Um instante… huff-huff-huff… só espere mais um pouco… — Esse cu doce é previsível até demais. — Aah… me deixe tomar um pouco de ar, que lhe dou as instruções até o local.
Hã…? Eu escutei bem?
— Huff… como você foi pelo lado contrário à entrada da arena, apenas refaça todo esse caminho de volta. — Tirei a sorte grande, pelo menos tem alguém cooperativo aqui. O caminho também não deve ser grande coisa, parece fácil.
— Arff… e com isso, siga pela esquerda. — Exatamente como eu disse. — O senhor terá que caminhar direto pelo longo corredor até se deparar com sua terceira direita… coff-cofff. — Que é isso? Tá passando mal meu amigo, quer uma aguinha? — E quando você virar… vai encontrar um certo complexo com uma árvore no meio, por lá você encontra as escadas que dão acesso ao segundo andar.
…
Queria que ele agilizasse um pouco um processo, ficar dando uma pausa de cinco em cinco segundos a cada frase é complicado.
— Cof-cof… perdão, senhor. Por uma das escadas, dependendo de qual você subir, seguindo pelo corredor, você deve virar três direitas e uma esquerda, ou então o inverso—
— Tá, tá, já entendi, o resto eu descubro por mim mesmo. Agora valeu, que tô sem tempo! — Eu me despeço do carinha e começo a andar. Na verdade, começo a correr, já tava ficando sem paciência, deve ter sido uns dois minutos só pra ele me dizer isso tudo.
— E-espere um pouco, eu não terminei de contar sobre—
Ele até tenta continuar, mas o som de sua voz é abafado assim que eu viro o corredor. Agora a única coisa que preciso fazer é tentar criar um mapa mental na minha cabeça e me basear nele.
As primeiras instruções são bem fáceis, como ele disse, refazer todo o meu caminho. Depois disso, eu apenas sigo pela esquerda da entrada ou saída daquela maldita arena… meu Deus, esse lugar é grande pra caralho. Se não fosse pelas instruções do Velho Arrombado, Darius ou Sata, com certeza já teria me perdido aqui há muito tempo.
— O-opa, perdão…!
— E-eita, foi mal aí, chapa.
— C-com licença!
Eu falo pra todo mundo que encontro no meio do caminho. Como tô com pressa, não tô me preocupando muito com quem acabo esbarrando. Por sorte, até que tá um tanto vazio. Pelo que ele disse, o local onde devo ir ainda é nesse complexo, acho que é a minha primeira vez olhando mais dos outros andares desse lugar…
Falando em complexos, existem dois tipos aqui: o real e o ordinário. Não preciso nem dizer que é no complexo real que fica o castelo, e também é lá que ficam os melhores e mais importantes quartos pros nobres do alto escalão.
Já esse complexo aqui é o ordinário, que apesar do nome, não tem nada de ordinário. Ele ainda é luxuoso, e pelo que dá pra observar, é aqui que estão os nobres que não possuem uma importância ao ponto de se instalarem no castelo.
Não sei se alguns funcionários se encaixam na categoria da baixa nobreza, mas os que ocupam algumas posições como guardas e cozinheiros, também tão aqui.
Dentro desse complexo, existe um outro sub-complexo. A diferença de um lugar pro outro é muito grande, tipo comparar a visão da Tijuca no RJ com as favelas precárias que ficam nos morros, eu lembro que usavam bastante isso como um exemplo da desigualdade social. Ainda assim, o lugar não é nem um pouco ruim como fazem parecer, já que tô vivendo lá, pra mim dá pro gasto.
Dormi só um dia com a Josué, e é ela quem tá cozinhando pra mim. A atmosfera aqui é muito aconchegante, todo mundo, mesmo ocupando os lugares mais baixos na hierarquia, estão sempre sorrindo e alegres. Fico impressionado que a maioria dos nobres não tratam eles como lixo, ou se tratam, de alguma forma eles ainda conseguem ter toda essa animação.
Aliás, ainda tenho que cruzar aquela estrada, felizmente eles fazem vista-grossa pra heróis, ou talvez pra todo mundo. Pra ir de um complexo ao outro, é preciso atravessar um pavimento que leva até os portões do castelo, e lá é sempre vigiado por guardas que pedem sua identificação.
Quer dizer, acho que eram pra pedir normalmente, mas eu sempre vejo quase todo nobre passando sem nem precisar olhar pra eles. Como tão sempre indo de lá pra cá, acho que só em casos específicos que devem parar pra abordar algum deles.
O que os nobres fazem? Provavelmente vão pras oficinas reais, já que tem áreas do castelo exclusivas pra diversos tipos de trabalho como alquimia, e eu descobri recentemente numa conversa que eles até têm salas de aula. Caraca, esse castelo é mesmo grande pra caralho.
Deve ter mais coisa que os nobres fazem, como almoçar naquele refeitório enorme, resolver assuntos, fofocar, ou sei lá, talvez limpar a bunda com papel de ouro em um dos banheiros chiques deles. Mas deixa, isso não é da minha conta mesmo.
A estrada que mencionei é o único guia que tenho se eu quiser sair daqui um dia. Os limites do castelo terminam em um lugar bem alto, como se fosse um tipo de morro ou colina, uma altitude bem mais elevada que a cidade. Por isso só daria pra atravessar passando pelo portão principal.
Eu perguntei mais sobre isso pra Josué, e ela me contou que o portão pra ir até a cidade fica a mais ou menos um quilômetro daqui… Por que tudo tem que ser tão grande nessa merda de lugar?
Pensar em caminhar… na verdade, correr, tá me dando mó fome. Bem que eu podia passar no refeitório se tiver no meu caminho pra “filar uma boia”, o que eu comi hoje não deu nem pro buraco do dente…
Claro, não que eu esteja reclamando da comida da Josué, porque tava boa, mas… não tem nem como comparar a sopa dela com aquele banquete que me ofereceram antes (parando pra pensar, quem em sã consciência rejeitaria toda aquela comida?).
Huff- Deve ser aquilo ali na frente…! Então é esse o lugar que aquele carinha quis dizer, finalmente cheguei. A árvore no centro, esse mini jardim, lembro disso como se fosse ontem. Essa foi uma das minhas primeiras visões de quando cheguei nesse inferno de mundo.
Mas tem alguma coisa estranha… não consigo encontrar aquele corredor ou alguma entrada diferente da maioria. Com certeza deve ser uma parede falsa que tá tapando ele, feita com magia, pra variar. Tanta coisa aconteceu em tão pouco tempo, nem parece que eu tô aqui faz só três dias…
Diferente da primeira vez, hoje tem poucas pessoas passando, estão olhando pra baixo, em silêncio. Se não fosse muito bem iluminado aqui, até confundiria esse cenário com filme de terror.
Vai ser um saco encontrar essa porcaria de escada, aquele carinha não especificou direito pra onde eu tinha que ir, eu devia ter ouvido tudo o que ele tinha pra falar. Foda-se, agora já foi.
Aaah… ficar pensando nisso não vai adiantar de nada também, vou focar mais só em achar esse maldito lugar, pensar merda só vai desviar minha atenção e acabar me atrasando ainda mais. Se eu conseguir ferrar com a cerimônia logo no início, com certeza Portgas vai ter uma ótima desculpa pra meter a porrada em mim de novo.
Esse desgraçado, não importa quantas vezes eu tente esquecer… mas eu vou fazer ele pagar por toda a humilhação que tá me fazendo passar. Mas pensar nisso também não vai resolver nada no momento, melhor eu só seguir de acordo e rezar pro melhor. Vou começar procurando por ali, parece haver mais corredores ao redor, então em um deles devem estar as escadas…
—
Tô perdido…
Consegui tomar no cu gostoso. Deu pra encontrar a merda daquelas escadas de antes, mas e agora…? Três direitas e uma esquerda? Ou três esquerdas e uma direita? POR QUE TODO MUNDO COMPLICA TANTO AS COISAS?!
Nem sei mais quantas direitas ou esquerdas já virei, sinto que fiquei andando em círculos, só sei que o lugar que eu tô é diferente dos de antes por alguns detalhes. Isso aqui parece uma encruzilhada; pra onde eu vou, mais corredores e escadas.
Como tantos nobres moram aqui? Precisa mesmo de toda essa galera? Tá me dando uma vontade de buscar o arquiteto dessa merda e meter a porrada nele por complicar tanto e fazer daqui um labirinto. Não sou um rato de testes pra ficar cruzando um milhão de paredes.
Já devo estar há mais de dez minutos procurando pelo tal lugar, e nada. É uma sala com porta? São mais escadas? Um salão? Meu Deus do céu, eu devia muito ter ouvido o restante que aquele cara tinha pra me falar…
Eu realmente vou foder com toda a cerimônia, justo na minha estreia como herói ou sei lá o quê. Porra, isso tinha que rolar logo agora…?!
— Agora tu não tem nada pra fazer a não ser rezar. Isso mesmo, parabéns por fazer merda como sempre, Otávio! — Eu penso alto. Não tenho opção a não ser ficar andando por aí aleatoriamente. Tem que ter algo aqui que indique um salão, uma oficina, sei lá, qualquer coisa diferente das outras.
— É, com licença—
Também não fui por todos os lugares que tem aqui, eu vim desse corredor, mas e se eu continuar indo reto? Talvez eu esteja mais perto do que pensava…
— C-com licença—
Mas e se eu acabar ficando perdido nesse andar também? Assim como lá embaixo, o que não falta é corredor atrás de corredor, é quase uma infinidade de portas, apesar de algumas estarem abertas, revelando quartos de dormir.
Mas essa merda não deixa de ser enorme! Devo ter no máximo vinte, ou melhor, quinze minutos de sobra, pra eu me arrumar e correr pro castelo. Vou me atrasar, porra, isso é certeza!
Acabou… declaro hoje minha nova presença como zagueiro oficial do Vasco… falando nisso, será que tem algum tipo de “vasco” aqui? Seria foda se eu conseguisse popularizar o futebol nesse fim de mundo.
Aaah, maldição! Tô com vontade agora de me esconder num armário e nunca mais—
— Ei! Com licença. — Eu escuto uma voz fina de fundo que faz voltar minha atenção aos arredores. Apesar de que, eu lembro de já estar escutando ela, só não tinha me ligado.
— Hã? — Eu me viro pro lugar de onde veio a voz, é uma garota. — Perdão?
— Você está perdido, não está? — Ela pergunta. Tá tão óbvio assim? Suas roupas indicam que é uma empregada, como ainda tá aqui, tenho certeza que ela acabou de se arrumar… espera um pouco!
— S-sim, eu com certeza tô perdido! É que eu preciso encontrar uma sala que me mandaram ir, mas eu não consigo achar ela em lugar algum, preciso me arrumar pra algo, sabe… — Eu tento responder disfarçadamente.
Assim que eu termino de falar, reverencio como cortesia. Ela sorri e faz um gesto com as mãos indicando que não tem necessidade de ser formal.
— A sala que você procura, não seria essa aqui? — Ela dá alguns passos à frente do corredor e aponta pra uma porta um pouco maior que as outras, e eu paro pra analisar direito.
Nela tem… uma placa? NÃO FODE! De tantas coisas pra eu notar algum tipo de indicação, tinha que ser uma placa? Por acaso tenho que adivinhar tudo nessa merda? Mal sei direito o alfabeto dessa desgraça baseada em braile.
Eu abro a porta, e me deparo com uma longa sessão de escadas em formato triangular, bem excêntrico até.
— Lá em cima você encontrará a oficina da alfaiate Lassera, acredito que seja ela quem você queira ver, não? Eu havia pedido estas vestimentas sob encomenda, e por conveniência, ficaram prontas nesta manhã! — Ela diz, complementando com um sorriso. Eu coloco as mãos na nuca e balanço a cabeça em afirmação.
Se demorasse só mais alguns segundos pra esse milagre, eu já taria revirando essa porra de lugar do avesso agora mesmo, começando por essa merda de oficina do caralho!
— Isso, muitíssimo obrigado mesmo! Cê não tem noção do quanto salvou minha pele. Mas, é… qual seu nome mesmo? — Eu decido perguntar por pura curiosidade. Ela estava rindo um pouco, mas não entendo o motivo.
— Me chamo Lunnamare, é um prazer conhecê-lo…? — Por que o pessoal nesse mundo tem que ter uns nomes tão estranhos?
— Otávio, me chamo Otávio. — Obviamente, meu nome não existe nesse lugar, mas a expressão dela não muda, que conveniente.
— Certo, senhor… Otávio? Espero que eu tenha dito corretamente! — Ela disse, que fofa. — Bem, se não se incomodar, estarei me retirando pois preciso atender algumas necessidades dentro do Castelo. Espero que consiga o que deseja com a senhorita Lassera!
— Que nada, agradeço de verdade. Acabei puxando muito do seu tempo, deve estar bem atarefada. A gente se vê por aí, Lunna. — Eu me despeço educadamente, e ainda encurto o nome dela pra facilitar. Ela dá um sorriso também. Haha, parece que gostou.
“Lunna” com certeza é mais bonito e fofo do que “Lunnamare”, quem pensou que esse seria um nome bom?
“Temos que decidir um nome para nossa filha, minha querida… já sei! Lunnamare!!”, “Querido, este é um belo nome, todos vão amar!!” Bela é minha pica, porra, não fode. Até a Lassera abrevia o nome dela porque fica bem melhor assim.
— Claro, até mais, senhor herói! — Ela retribui o apelido, me chamando de herói… até que demorou pra eu ouvir esse título de novo.
Mas ainda assim, fico impressionado que ela não reagiu de outra forma falando comigo, ao menos poupa trabalho de eu ter que lidar com qualquer reação estranha.
Eu levanto a mão e dou um tchauzinho simples. Ela se vira e calmamente anda pelo corredor. Eu espero um pouco e observo enquanto ela vai embora.
…
Ótimo! Agora tenho uma noção básica de pra onde devo ir quando terminar com a Lass lá em cima. Valeu Lunna! Ih, puta que pariu, Tô me atrasando de novo nessa porra.
Preocupado com o tempo, eu começo a subir as escadas bem rápido. Quanto mais eu subo, mais consigo escutar parte de uma conversa, além de sons de máquinas funcionando.
— Para de teimar comigo, estou dizendo que deixar como está já é o suficiente!
— Ainda não tá pronto! Tenho que fazer alguns retoques finais, você não entende que esse é o trabalho mais importante da minha vida?!
Que é isso, tá bem barulhento mesmo. Essa foi uma voz feminina, então acho que deve ser a Lass…
Terminando de subir as escadas, eu vejo um grande salão. Manequins, roupas, fitas, instrumentos de costura, além de muito, mas muito tecido espalhado pelo chão…
Há diversas máquinas no salão, que curiosamente possuem um tipo de cristal num recipiente de vidro na parte superior, então eu acredito que elas funcionem à base de magia também.
— Para com isso, não vê que ele nem chegou aqui, e você ainda pensa em mudar o conteúdo original?!
— É um retoque rápido, então vê se me dá isso!
A temperatura aqui tá bem quente… parece que essas máquinas não dissipam tão bem o calor, e se não fosse pelas janelas, isso aqui com certeza daria uma ótima sauna. Aliás… qual o problema desses dois?
— Dá logo!!
— N-não insista!
Junto comigo, só há mais duas pessoas, a própria Lass, e um homem desconhecido. P-pera um pouco, ele tá…?
— S-sai, desencosta!
— Me dá!
Eu esfrego meus olhos pra garantir que não tô vendo mal (apesar de agora eu conseguir enxergar bem sem ter óculos). A Lass tá usando um tipo de roupa mais solta, ideal pra se trabalhar numa oficina quente: um top comprido vermelho, e uma calça larga dobrada até perto do joelho.
Já o homem com quem ela tá discutindo é bem mais velho que ela, deve ter quase a idade do Darius.
Mas uma coisa nele é estranha, ele tá usando uma roupa completamente fechada, diferente do vestuário dos nobres que eu fiquei acostumado a ver. É justa, com paleta de cores em branco e vermelho. Mas o que impressiona é que ela cobre todo seu corpo, e ele tá claramente suado, mas por incrível que pareça, a roupa em si tá completamente seca.
— Grrrrr! Já disse pra me dar logo essas roupas!
— Não! Mantenha como está, ainda vai dar pra mostrar ela várias vezes no futuro.
— Tem que estar perfeita agora! — Cara… eles ainda tão brigando?
A roupa é de longe a parte mais chamativa dele… e esse cabelo, eu reconheço! É impossível não reconhecer, seria uma coincidência? Esse cara tá usando o penteado do Elvis Presley!
Aquele topete, as laterais conectadas com a barba (mas não tá tão cheia como me lembro), não é possível isso não ser intencional…
— Vinte minutos! Me dê vinte minutos pra que eu termine!
— Você por acaso ficou maluca, mulher?! Estarão apresentando os heróis daqui a quinze minutos! — O QUÊ?! NÃO FODE!!
Eu corro pro lado deles bem rápido, gritando a minha chegada.
— TÔ AQUI! TÔ AQUI!
Os dois parecem me ignorar enquanto a Lass tenta pegar das mãos dele uma roupa, à força. Estão tão focados que nem conseguem ver uma pessoa entrando na oficina…? Mas que saco.
Já tava ficando com medo do que poderia acontecer comigo se eu atrasasse demais, e grito uma última vez.
— EI, CARALHO!!
Agora sim, finalmente, eles percebem que eu cheguei.
— O-otávio! — A Lass diz, se jogando pra cima de mim e me derrubando. Fico de cara com ela, além de duas grandes coisas. — V-você tem que ver isso!
— Tá bom, então sai de cima por favor. — Eu coloco minhas mãos nos ombros dela e a jogo pro lado, apesar de eu estar gostando da visão.
Tudo o que eu consigo pensar nesse momento é em não chegar atrasado na merda do castelo.
— Ai ai, por que você sempre é assim? — Diz o homem com quem ela estava lutando. Ele pega a peça de roupa que estava segurando e a pendura numa arara de roupas.
Na arara tem um kit completo, e a camisa que ele acaba de pendurar é bem longa, mas cara… ela é linda pra caralho! Eu me levanto e me aproximo da arara, como se estivesse hipnotizado por ela.
É uma camisa de manga longa de cor branca, com detalhes em amarelo e um longo colarinho. O tecido é grosso, consigo saber só de olhar, ela possui um único botão na parte do peito. O botão tá aberto, então consigo ver que a cor do tecido de dentro também é amarela.
Mas chapa… o que deixa essa roupa totalmente especial são os detalhes.
Nos ombros dela, até o pescoço, o tecido é amarelo com um tipo de padrão repetitivo, são algumas linhas que se estendem por todo o lugar e formam vários losangos, dá a impressão que é uma dragona. Esses detalhes não estão só nos ombros, mas sim no centro da camisa, como uma linha que a corta ao meio, por toda a região dorsal e no punho das mangas.
Do jeito que é aberta no meio, e também por conta do tecido grosso, tenho quase certeza que é feita pra ser usada junto com uma undershirt ou algum tipo de camisa social, como se fosse se preparar pra colocar um terno. Ela também tem dois botões na parte central da barriga, me pergunto pra que eles servem.
Ela de longe parece uma camisa aristocrata simples, mas só de longe. É bizarra a impressão que dá, o jeito como ela foi costurada, cada detalhe, é maravilhoso… curiosamente só vejo isso nas roupas da Lass, é um estilo antigo com um toque moderno, genial pra caralho!
— Ahem, parece que o senhor herói apreciou e muito esta camisa. — O homem fala, me pegando de surpresa. Eu volto pro meu senso e me viro rapidamente.
Parece que os dois terminaram de discutir enquanto eu olhava pra peça… eles cochicharam alguma coisa, mas voltam sua atenção pra mim, enquanto Lass se aproxima.
Ah não, espera… eu havia esquecido que isso é uma oficina sob encomendas! Toda essa roupa maravilhosa deve ser de outra pessoa!
NÃÃÃÃÃO!!
Me senti como uma criança quando o pai rejeita comprar algo pra ela, minha expressão muda de feliz pra triste nesse exato momento. Eu fico observando o sonho de usar essa roupa ser despedaçado por uma máquina trituradora.
— E aí, Otávio, o que achou da camisa?! — A Lass pergunta empolgada pra saber minha opinião, mas pra que serve eu dar uma opinião de algo que nem vai ser meu?
Eu viro pra ela com uma expressão triste, Lass percebe isso e se assusta, como se tivesse visto um fantasma, deixando um suspiro alto escapar. Eu deixo um “meh” sair sem querer.
— V-VOCÊ NÃO GOSTOU?! — Ela parece destruída por dentro. Lass começa a andar pelo salão aleatoriamente, balançando o corpo, andando de um lado pro outro e resmungando com a mão na cabeça.
— C-com licença, senhorita Lass! Você interpretou errado o rapaz! — O homem chega pro lado dela tentando consolá-la, mas ela empurra a mão dele pra longe.
— NÃO!! Agora já era… — Ela está mesmo deprimida. — Eu disse!! Disse que deveria ter mudado parte dos bordados e detalhes, mas você ficou me contrariando, agora tá vendo, Reinald?!! — Ela joga toda a culpa nele agora.
Ah, e o homem se chama Reinald? Interessante, nada mal.
— Tsc, mas isso não tem nada a ver com os bordados, você precisa—
— Já chega. Isso tudo vai pro lixo, vou destruir agora mesmo!
— E-espera um pouco! — Eu falo passando na frente dela. — Sei que não posso aproveitar isso tudo, mas é bonito demais pra ir pro lixo, ficou doida?!
Os dois levantam os olhos ao mesmo tempo, Lass pisca bem rápido quando ouviu que eu na verdade gostei.
— E-espere um pouco, caro herói… você ainda não percebeu? — Reinald pergunta pra mim. “Percebeu” o quê? Eu fico confuso com a pergunta dele.
— Ai ai, vocês dois… herói, essa é a roupa que Lass passou o último dia inteiro produzindo especialmente para você. — HÃ?! Não sei com qual informação eu me impressiono mais, que essa peça divina é pra mim, ou que a Lass conseguiu preparar tudo em um único dia.
Ele observa minha expressão mudando instantaneamente, eu pareço não acreditar, nem consigo responder nada de volta.
— E-então… você gostou? — Lass pergunta novamente com uma voz suave depois que seu senso retorna, se aproximando de mim pra ouvir o que tenho a falar.
— Se eu gostei? Porra, eu adorei pra caralho!! — Eu falo com toda minha empolgação enquanto começo a rir de felicidade, e na hora corro logo pra arara pegar a camisa.
— HAHAHA!! EU SABIA!! — Lass grita de felicidade também, o homem olha pra ela, é como se eu quase lesse seu pensamento, “Você não estava agora pouco deprimida, falando que ia destruir a peça?”. Mas ainda assim, chega a ser refrescante vê-la tão satisfeita com seu trabalho.
O homem espera pacientemente terminarmos nosso momento. Vendo isso, eu decido colocar de volta a camisa na arara. Apesar de ela ser linda pra cacete, não tenho a mínima ideia de como vesti-la, ou nem posso ainda.
— Eu não disse, Lass? Você deve confiar na opinião daqueles que são mais experientes que você. — Reinald complementa, se sentindo como se tivesse ganhado aquela discussão que ouvi quando cheguei.
— Humph, mas não significa que ela não pode ficar melhor. — Lass retribui com os braços cruzados, pelo visto ela não desistiu da ideia de antes… — Agora, só temos um último trabalho a fazer. Otávio! — Era o que eu tava esperando esse tempo todo!
Apesar de ainda suar frio por conta do tempo, já que eu vou me atrasar de qualquer forma, melhor fazer as coisas com calma.
— Certo, vou estar sob seus cuidados! — Eu digo, confiando neles. Reinald e Lass começam a pegar os itens na arara de roupas, além de outros materiais, e os dois passam a me dar ordens do que fazer.
Tá, isso aqui vai demorar um tempinho no final. Deus, nunca pedi nada pro Senhor, então por favor, vê se consegue aliviar minha barra agora.
Eu me sento numa cadeira que eles trouxeram. Tô sendo basicamente afogado pela quantidade de coisas que tenho que fazer ao mesmo tempo. Eu começo a me arrumar de verdade, colocando primeiro as roupas de baixo.
—
Já faz uns bons minutos que tô sentado, sorte a minha que a cadeira é confortável.
— Eeee… prontinho! — Lass se afasta de mim, dando um suspiro de alívio depois de ajeitar parte da minha roupa e face. Eu não faço ideia de quanto tempo se passou, ou quão atrasado eu tô, a única coisa que sei é que eu devo estar maravilhoso.
— Foi tudo? — Eu pergunto, ansioso pra ver. Vestir aquela roupa foi mais complicado do que eu esperava, puta que pariu.
Comecei da cintura pra cima, colocando um tipo de camisa de manga longa primeiro, onde o tecido de modo geral é mais fino do que a camisa principal. A única diferença é na gola, que é mais grossa, meio dura, com outro acabamento em amarelo na borda de cima, combinando com a peça principal.
Depois foi um tipo de meia-calça térmica masculina, que se estende até os pés.
Usei pra facilitar pra pôr os calçados e vestir as calças, porque a Lass disse que o tecido poderia estar um pouco mais justo. No final, nem precisou muito já que a calça estava mais larga que o esperado… na verdade não só a calça, como a roupa principal também.
É quase do mesmo tamanho da camisa térmica que coloquei quando troquei de roupa pela primeira vez nesse mundo, só que um pouco maior. Enquanto eu normalmente usava camisas M, essa é como se fosse uma G.
— Hmm, a maquiagem está boa, seu cabelo também… a roupa não está nem um pouco amarrotada, apesar de ser um pouco mais larga, encaixou bem e não está dando uma impressão de que você está sendo engolido por ela. — Eu me levanto da cadeira, Lass passa a analisar tudo, olhando de todos os ângulos. — Isso tá… perfeito! Pra mim você tá excelente!! — Ela fala com os olhos brilhando, animada com o resultado final.
— Acho melhor pedirmos a opinião de nosso caro herói, não? — Reinald retorna, trazendo consigo alguma coisa alta sobre rodinhas, com um cobertor por cima. Eu me aproximo pra ver o que é.
Lass se empolga bastante, ela tá até quase mais animada do que eu. A julgar por sua reação, eu estimo que seja um espelho!
Ela rapidamente corre e se esconde atrás dele, colocando só sua cabeça para fora.
— Tá pronto pra ver como ficou?
Eu fico um tanto nervoso. Mesmo que eu tenha achado a roupa maravilhosa, várias vezes já me peguei em situações que experimentava algo que achei bonito, mas que acabou não caindo bem em mim.
— Com certeza! — Eu falo, determinado pra ver o resultado final.
Woosh!
— Voilà! — Ela então puxa e joga o cobertor pra longe, quase em cima do Reinald. Eu fico de cara com meu reflexo, perplexo, me aproximo mais, e me olho profundamente.
— E-eu… — Puta que pariu, cara!!! — Eu tô incrível!!
Mas que… nossa!! Tô me segurando pra não chorar, puta merda, fiquei muito melhor do que pensava!!! Eu acabo deixando escapar um pequeno, mas sincero sorriso, eu começo a olhar direito pra roupa. Como ela já havia dito, só eu sinto que tá meio larga, por fora é quase imperceptível!
— AHAHAHAAAH! — Lass começa a rir de emoção novamente, ainda mais feliz do que na última vez. Reinald também dá um sorriso sincero como o meu, vendo nossa satisfação. — Eu sabia que tava perfeito! — Ela corre pro meu lado e me dá um abraço. Eu também sorrio olhando pra ela, apesar de ela estar um pouco suada e eu ficar com medo de sujar a roupa…
— Ahem, caro herói. — Mas, sem mais nem menos, Reinald acaba com nossa graça. — Não terminamos completamente a sua preparação. — Não?? E falta mais o quê?
— O que tá querendo dizer, Reinald? — Lass parece ter tido o mesmo pensamento que eu.
— Apesar de sua vestimenta estar maravilhosa, ela não incorpora o status de um verdadeiro herói. É por isso que eu preparei os seguintes itens. — Ele aponta pra uma mesa que vi ele arrumando enquanto Lass passava maquiagem em mim.
Nela há uma coleção de equipamentos, como braceletes, anéis, capas, cachecóis e algumas espadas, cada uma com um tipo diferente de punho, todos muito bem decorados.
— Escolha o que for do seu agrado, acredito que todos combinam com seu estilo, então, você está livre para decidir. — Reinald termina com um sorriso, e eu me aproximo da mesa pra analisar bem cada item.
— Opa, deixa comigo. — Sinceramente, eu nunca gostei de braceletes, cordões, anéis, brincos ou qualquer coisa do tipo, então já excluo qualquer um que estiver aqui.
Ainda assim, eles são bem atraentes e chamativos… mas eu já sei muito bem o que vou escolher, fiquei de olho nisso desde que vi ele colocando na mesa!
— Já tô decidido! — Os dois parecem se impressionar com minha rapidez.
Eu estendo a mão e pego o cachecol e a capa azuis, sem muitos adornos, a não ser os botões com detalhes em ouro da capa. São acessórios simples, do jeito que eu gosto.
— Hoho, excelente escolha!
— Era exatamente o que pegaria!
Olha? E eles ainda concordam comigo! Azul é uma cor fria mas chamativa, então, se quisermos passar uma mensagem simples, pra que exagerar? Isso é mais que o suficiente pra dar um ar de herói, e não ofusca meu visual principal, que é pra onde os olhares das pessoas têm que ir.
— Vou pegar essa aqui também. — Eu coloco minha mão numa espada e a levanto, é apenas decorativa já que a lâmina é falsa, consigo sentir só pelo peso de segurá-la, não é nem um pouco parecido ao de uma verdadeira.
Achei seu punho muito bonito, é em formato de losango dourado, com outro losango de cor preta com pontas afiadas no centro, perfeita pro meu estilo.
— Ótima escolha. Se me dá um momento, por favor. — Eu me viro e entrego a espada pro Reinald, enquanto ele anda até um armário e pega uma bainha de lá. Ela é um tanto extensa e longa, de cor preta, parecida com a de Darius.
— Aqui, permita-me. — Ele pega a alça e passa por dentro da cinta que me colocaram. Aliás, era pra isso que serviam aqueles dois botões da camisa principal. Ele fecha e a encaixa, e então me entrega a espada.
— O-opa, espera um pouco. Quero deixar isso pro final, primeiro os outros acessórios. — Eu falo e entrego a espada de volta pra não estragar a surpresa, o símbolo de um herói deve ser a última coisa do conjunto, como uma cereja no bolo.
— Concordo totalmente! — Lass se aproxima de mim com a capa nas mãos. Não sei como colocar uma capa, nem sei se é possível *Click sem furar algo, como se aqueles botões fossem tipo um broche *Click, na verdade—
— Prontinho!
— M-mas já?! — Eu falo meio confuso e impressionado. Ela me ignora e em seguida pega o cachecol, passando pelo meu pescoço.
…
Sério? Por incrível que pareça, ela tá demorando mais pra arrumar o cachecol do que a própria capa.
— Só um pouquinho, tenho que achar a posição correta. — Enquanto isso, Reinald está pacientemente esperando ela terminar, sua dificuldade é manter o cachecol numa posição decente… — Pronto, consegui!
Ela finaliza, e em seguida, Reinald finalmente se aproxima de mim, segurando a espada com as duas mãos, pronto pra me entregar.
— Você realmente se parece com um herói de um conto de fadas, isso é ótimo! — Ele dá um sorriso orgulhoso, como se estivesse falando isso pra um filho. Mas falando em contos de fadas, minha criança interior teve uma brilhante ideia.
Eu decido me ajoelhar na frente de Reinald, e o jeito como minha capa se move dá até um efeito especial a essa cena, então, estendo minhas duas mãos acima da cabeça, enquanto olho pra baixo.
— Pfft! — Lass acha graça da situação, isso me deixa meio envergonhado, e apesar de parecer infantil, a sensação é ótima.
Ele me entrega a espada, eu a pego e me levanto. Depois, giro o punho a 360 graus (pratiquei essa técnica enquanto treinava com Darius), e graciosamente guardo a espada na bainha.
— Pffft! Hahaha! Você parece que vai atuar numa peça de teatro agorinha. — Lass brinca de novo com a situação, quebrando meu incrível esplendor heroico.
— E você tá ótima pra atuar num circo. — Eu respondo, também quebrando o brilho dela.
— O-O QUE DISSE? — Agora é ela quem tá irritada.
Ahahahaha! Eu e Reinald acabamos rindo, mas dessa vez quem decide acabar com nossa graça é a própria Lass.
— Herói… com licença, mas não tá se esquecendo de nada? — Eu paro de rir, e começo a suar frio… MUITO FRIO!
Eu lentamente viro minha cabeça pro Reinald… ele parece quase pior que eu.
— H-HERÓI!! — Ele grita em desespero. Comparado a Lass, ele é muito mais sério, por isso, vê-lo agindo assim é um tanto engraçado. — V-vamos logo! Não podemos atrasar mais nenhum minuto, a conferência já deve ter começado há tempos! — Ele fala isso segurando minha mão e me puxando de volta pras escadas.
— Lass! Deixarei você no comando da oficina enquanto estiver fora, por favor, cuide das máquinas e arrume tudo. — Começamos a descer as escadas. Lass parece resmungar, mas não consigo ouvir nada.
— Tenta aparecer na cerimônia depois! — Eu falo enquanto desço as escadas.
…
Chegamos nos corredores, e apesar de eu estar bem suado por conta do calor daquela sala, a roupa parece completamente seca por fora, isso é incrível. Mas ainda assim, tem um problema… como vamos chegar no castelo a tempo? Fica longe pra cacete daqui, vamos andar por quase meia hora pra chegar na sala de conferência…
— Reinald… o que a gente faz agora? Não vai dar tempo se formos andando… — Eu falo tentando esconder o meu desespero. Além do mais, não estamos correndo, mas sim andando normalmente… QUAL O MOTIVO DISSO? TÔ QUASE SURTANDO AQUI!!
— Não se preocupe, tenho um meio alternativo em mente, me siga que chegaremos lá. — Meio alternativo…? Ele quer dizer um caminho subterrâneo que seja mais rápido ou coisa do tipo? Hã?
Ainda não entendo por onde ele quer ir, mas agora ela estava acelerando o passo, então eu só continuo seguindo até sabe lá onde.
…
— Aqui, chegamos. — É só… uma parede? Hã?! Aaah, tendi! Com certeza é um daqueles truques de magia que escondem uma sala secreta por trás. Reinald sabe usar magia, por acaso…?
— Não tem nada aqui… qual é a boa desse caminho—
— Entrem.
— Ai, caralho! — Eu me assusto com essa voz grossa e desconhecida, parece que sussurrou pra mim… que porra é essa?
De repente, a parede na nossa frente desaparece como poeira, e mostra um corredor feito de pedra completamente escuro. EU SABIA, CARALHO!! Mas não tem ninguém nele?
— Vamos, Otávio. — Reinald entra no corredor, eu só sigo, parece medonho pra cacete.
Consigo notar alguns insetos em uma das paredes, aranhas também… eca, que nojo, esse lugar parece mais antigo do que aquela torre que me invocaram. Acho que nunca passaram uma vassoura nisso aqui.
Andando um pouco mais, conseguimos ver lá no fundo aparecendo uma luz, rapidamente chegamos até ela, e… eita caralho, que porra é essa?!
É uma sala um tanto pequena, mas que ainda cabe pelo menos dez pessoas. No meio dessa sala há um longo símbolo mágico, feito com misturas de quadrados, losangos e círculos, todos da cor azul.
— Não conte dessa sala para ninguém, nem mesmo Lass tem ciência dela. — Isso é… impressionante? Uma sala, que é secreta, até mesmo pra quem frequenta o castelo?! — Este é um círculo mágico espacial. — OPA! Já consigo saber o que é… será que vamos pro castelo num teletransporte?!
— A julgar pela sua expressão, parece que já identificou o uso deste lugar. — A voz grossa e misteriosa fala, como se estivesse me observando. — Saudações, Herói da Nova Geração. Esta sala é apenas utilizada em questões de emergência. Como estou ciente da comemoração de hoje, e por ainda estarem aqui, compreendo o motivo de seus desesperos.
— Agradeço e muito vossa compreensão, Sombra. Partiremos agora mesmo, nos coloque no maior andar do castelo, em frente ao salão real. — S-sombra?! Espera um pouco, eu não consigo entender letras, mas eu entendo muito bem as palavras.
Se o nome dele é Sombra, e como quase todo nome que eu escuto é estranho… ou esse cara tem o nome de algo do meu mundo… ou esse não é o nome mas sim um apelido que foi traduzido.
— Como desejar, Reinald Mad’arc. — Sobrenome parece ser chique até, apesar de bem esquisito. Infelizmente nem tudo é perfeito.
Quando ele termina de falar, o círculo mágico em que estamos começa a brilhar. Eu sinto como se fosse um certo formigamento em minha pele, e uma sensação de queimadura… droga que agonia!
Em seguida, minha visão fica embaçada e completamente branca, como se eu não enxergasse mais nada.
— A-ai caralho! Meus olhos, porra…!!
— Você se acostuma. — Reinald responde no meio da ativação da magia.
E, em questão de segundos… estamos no castelo! Isso é incrível demais!! Cara, às vezes viver num mundo mágico é mesmo massa pra cacete!!!
Eu coço meus olhos por conta da minha visão ter basicamente ficado cega, e de pouco em pouco identifico o local em que estamos.
— Tsc, não é o lugar certo. Teremos que andar um pouco, Otávio. — Reinald fala enquanto olha os corredores, tentando saber onde estamos. Mas, ainda assim, esse aqui com certeza é o castelo, quando você o olha uma vez, nunca o esquecerá.
— Certo, então bora logo, já atrasamos demais nessa porra! — Eu falo pra botar pressão, e nós começamos a andar bem rápido em direção ao salão real, o lugar onde está sendo realizada essa conferência, de acordo com Reinald.
Apesar de todo o atraso, ainda assim me sinto um tanto tenso e suando frio… mas não é tanto pela questão do tempo perdido, e sim do que pode acontecer lá dentro…
Eu vou encontrar novos heróis…? Pessoas do meu mundo…?! Isso é realmente sério, e não uma brincadeira? E se for, como eles vão reagir? Vão ser amigáveis, meus novos companheiros? Seria bem merda se minha relação com as únicas pessoas que poderiam realmente me entender for uma merda…
Chegamos num corredor excêntrico, ele é muito maior do que os outros. Possui um tapete vermelho como o daquelas premiações de filmes… porém as bordas são tão reluzentes que ele parece bordado com fios de ouro puro.
Além disso, o corredor é repleto de estátuas que parecem feitas de mármore ou uma pedra bem negra entre colunas, elas tão trajando várias armaduras brilhantes, segurando espadas e machados. Também… caralho?! Tem uma puta porta enorme aqui.
Enorme no sentido de grande pra cacete, muito grande mesmo, no mínimo é maior que cinco pessoas uma em cima da outra, já vi que é aqui mesmo que vou ter que entrar…
Tum-tum! Tum-tum!
Eu sinto minha pressão aumentar um pouco, Reinald anda em direção a ela e dá um sinal pra eu ir junto. Eu começo a andar, porém um pouco lento.
Tum-tum! Tum-tum!
Tsc, porra Otávio, foco! Você se preparou o dia todo pra isso, você sabe que consegue! Já encarou umas barras muito piores do que simplesmente se apresentar em público. Só de estar aqui já prova que você é mais do que capaz em fazer isso. Não fique nervoso a toa, você vai conseguir! Você vai!!
Tum-tum!
Com isso me sinto um pouco mais calmo e menos trêmulo. É com essa última encorajada a mim mesmo que começo andar até Reinald, porém confiante. Se eu for ter que enfrentar um demônio, eu enfrento! Um dragão? Foda-se, vem tranquilo! Podem me tacar o Jiraya, o que for, por que se prepare mundo, lá vem o grande Otávio!!!
***
Comentários em Cap. 10.5
COMENTÁRIOS
A Comikey acabou de anunciar a estreia de 3 novos títulos com a chegada de Maio.
Deem uma passada no anúncio oficial deles com o link abaixo e não deixem de ler os capítulos de graça no site e aplicativo da Comikey.
Basta clicar aqui para ler o anúncio completo!